Parlamento aprovou o referendo. Tsipras diz que o momento é "histórico"

A extrema direita votou ao lado da esquerda do Syriza e da direita do ANEL. Alexis Tsipras afirmou no Parlamento que um grande voto no não "será um enorme Sim no sentido de não aceitar ultimatos".
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O Parlamento grego aprovou esta madrugada de domingo a realização de um referendo ao acordo com os credores da Grécia, que o primeiro-ministro Alexis Tsipras pretende realizar no próximo domingo, dia 5 de julho. A votação começou já bem depois da meia noite (mais duas horas em Atenas).

Os 300 deputados foram chamados, um a um, a dizer Sim ou Não ao referendo. Os comunistas, que ainda levantaram uma questão processual - queriam votar na pergunta a fazer ao povo grego - acabaram por votar não, mas rapidamente o cenário de vitória do Sim à consulta popular se começou a desenhar, com o voto positivo do partido de extrema direita Aurora Dourada.

Estes votaram ao lado dos partidos que apoiam o governo - Syriza (esquerda) e ANEL (direita), que de qualquer forma já tinham 161 dos 300 lugares do parlamento.

A proposta venceu por 179 votos a favor e 120 contra.

Antes, foram os discursos.

Alexis Tsipras começou o seu discurso com uma posição de força: "Estamos face a face com a História".

Isto porque, concretizou, "não vamos pedir permissão ao [ministro das Finanças alemão] Schauble nem [ao presidente do Eurogrupo] Dijsselboem para realizar um referendo".

"Ontem os nossos credores chantagearam-nos com a ameaça do fim de liquidez, hoje usam o medo de uma corrida aos bancos", afirmou o líder do governo grego, descrevendo desta forma o que chamou uma "propaganda do medo" por parte das instituições europeias. Mas promete nada recear medo, e até citou Roosevelt: "O nosso único medo é o próprio medo".

Num discurso recheado de palavras de orgulho nacional mas, segundo analistas do The Guardian na Grécia, com poucos dados concretos, Tsipras acusou ainda o FMI de saber que a dívida grega "não é viável".

E respondeu às críticas do líder da oposição e ex-primeiro-ministro Antonis Samaras (ler mais abaixo): "Estamos a fazer aquilo que quiseram fazer mais não conseguiram, que é resistir".

"Não queremos sair da Europa, apenas das políticas que são contra os valores tradicionais europeus", garantiu o chefe de governo grego.

Tsipras garante que respeitará "o resultado do referendo de 5 de julho, seja ele qual for", mas considerou que a vitória do não será um recado importante para a Europa: "Um grande Não será um enorme Sim no sentido de não aceitar ultimatos".

O ex-primeiro-ministro, Antonis Samaras (Nova Democracia) acusou o governo de Alexis Tsipras de ter falhado na promessa de conseguir um melhor acordo para a Grécia do que aquele que levou ao resgate que termina agora.

"A proposta de referendo atira a Grécia para fora do euro", afirmou Samaras antes de se dirigir diretamente a Tsipras: "O acordo que traz é pior do que o resgate anterior. Não apenas o que foi proposto pelos credores, mas a sua proposta também".

Após um incidente com a presidente do Parlamento - que quebrou o protocolo por reentrar no hemiciclo durante a intervenção de Antonis Samaras, o que levou a que este interrompesse o discurso, a que os deputados da Nova Democracia abandonassem a sala em protesto e a dois intervalos - Samaras concluiu o discurso acusando o Governo de estar a concretizar um plano para tirar o país do euro.

"Sair do euro é o equivalente a cometer suicídio", disse Samaras. O seu partido é contra a realização do referendo mas, caso este se concretize, irá apelar ao voto no Sim (ao acordo) pois o Não equivale à saída do euro.

Antes, a deputada do Pasok (socialistas) Fofi Gennimata afirmou que a consulta popular "não é um ato de coragem, nem é um ato de resistência. A bancarrota esconde-se nessas escolhas e seria uma humilhação nacional".

Gennimata apelou ao líder do governo grego para que desista do referendo e convoque eleições antecipadas.

O ministro de Estado Nikos Pappas tinha já rejeitado a possibilidade de abdicar da consulta popular, afirmando que este poderá evitar a "catástrofe" de mais austeridade.

"O Sim [no referendo] não é à Europa, é Sim a memorandos", afirmou. "Queremos um acordo que seja socialmente justo e conduza a Grécia ao crescimento".

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, está presente neste debate parlamentar, tendo a sua entrada no hemiciclo aplaudida de pé pelos deputados do Syriza, o partido que apoia o seu governo (foto).

A votação do Parlamento grego estava originariamente prevista para as 22:00 (hora de Lisboa).

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